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José Estêvão Coelho de Magalhães.
José Estêvão Coelho de Magalhães (
Aveiro,
26 de Dezembro de
1809 —
Lisboa,
4 de Novembro de
1862), mais conhecido por
José Estêvão, foi um notável jornalista, político e orador parlamentar português, sendo durante o período de
1836 a
1862 a figura dominante da oposição de esquerda na Câmara dos Deputados. Era bacharel formado em
Direito pela
Universidade de Coimbra, veterano das
guerras liberais e um dos
académicos que viveu o exílio em
Inglaterra e na ilha
Terceira e participou no
desembarque do Mindelo. Em
1841 fundou a
Revolução de Setembro, o mais influente jornal da
imprensa liberal. Sempre mais radical que as soluções preconizadas pelos partidos políticos da época, foi por várias vezes obrigado a procurar refúgio fora do país devido à sua frontalidade na oposição. Participou activamente na
Patuleia, integrando o exército rebelde que operava no
Alentejo.
Os anos formativos[editar]
José Estêvão nasceu na freguesia da Senhora da Apresentação (incorporada na de
Vera Cruz desde
1835), de
Aveiro, a
26 de Dezembro de
1809, filho do
médico e político liberal
Luís Cipriano Coelho de Magalhães e de sua mulher, Clara Miquelina de Azevedo Leitão, oriunda de uma família de considerados negociantes aveirenses. Quando José Estêvão tinha apenas um ano de idade, em
1810, os exércitos de
Napoleão Bonaparte ocuparam Aveiro e o pai foi obrigado a abandonar a cidade, deixando a família entregue aos cuidados da avó materna. José Estêvão permaneceu entregue aos avós até
1821, ano em que passou a residir com seu pai. Pouco depois, em Junho de
1822, a mãe faleceu.
Após cursar estudos preparatórios com diversos reputados professores aveirenses, e depois de ter sido incentivado por seu pai a abandonar a intenção de seguir uma carreira eclesiástica, José Estêvão matriculou-se em Outubro de
1825 no 1.º ano de
Direito da
Universidade de Coimbra.
Em Coimbra envolveu-se profundamente nos clubes políticos que se formavam no meio académico, reflexo da grande agitação que perpassava Portugal face à instabilidade social e política que se vivia, cedo se destacando pela sua eloquência e activismo em prol do movimento liberal. Por esta altura estreou-se na imprensa.
O exílio e a guerra civil[editar]
No mês de Maio de
1828, quando na sequência da
Belfastada os liberais se levantaram contra o governo de D.
Miguel I, o então jovem estudante José Estêvão voltou a alistar-se no novo
Batalhão Académico que os estudantes de Coimbra então formaram, com o posto de cabo.
Malogrado o levantamento e dissolvida a
Junta do Porto a
3 de Julho de
1828, com a retirada para
Londres, a bordo do vapor
Belfast, dos seus principais líderes, viram-se os implicados na intentona, entre os quais José Estêvão, então com 18 anos de idade, obrigados a procurar refúgio na
Galiza, acompanhando o exército liberal em retirada. Este grupo, de cerca de 12 000 pessoas, juntou-se aos
emigrados liberais, partindo de
Ferrol com destino
Plymouth, onde permaneceu acantonado até poder juntar-se às forças liberais que resistiam na ilha
Terceira.
Na Terceira colaborou na edição da
Crónica da Terceira, o primeiro periódico que se publicou nos
Açores e à altura um elo essencial na manutenção da coesão das forças liberais ali estacionadas.
No
Cerco do Porto, coube aos
académicos ficarem encarregados da defesa da
Serra do Pilar. Nesse sector travaram-se duros combates nos dias
13 e
14 de Outubro daquele ano de
1832, tendo o
Batalhão Académico merecido os maiores encómios pela forma como então se houve. No seu relatório ao governo, o general
José António da Silva Torres, mais tarde
visconde da Serra do Pilar, que comandava o reduto, elogiou os voluntários
académicos e o seu comandante, apontando que no combate do dia
13 de Outubro se tinham destacado, entre outros, José Estêvão Coelho de Magalhães,
José Silvestre Ribeiro e o alferes Alexandre Carvalhal Silveira,
que encarregados dos trabalhos de fortificação, dirigiram o estabelecimento da brecha debaixo dum vivíssimo fogo da artilharia, e no dia imediato tiveram um comportamento igual ao dos seus camaradas. Em resultado, José Estêvão foi condecorado com o hábito da
Ordem da Torre e Espada.
Nos combates que se seguiram, deu novamente provas da sua bravura em diferentes ocasiões, e sendo promovido, por distinção, a segundo-tenente de artilharia a
4 de Abril de
1833.
Pouco depois, nos combates que se travaram a
25 de Julho daquele ano, voltou a destacar-se na defesa de redutos e fortificações que faziam parte da linha de segurança do Porto, nomeadamente do reduto do Covelo, que ficava entre as estradas de Braga e Guimarães, e do reduto da Flecha dos Mortos, que se situava entre
Lordelo e a Foz.
Naquele último reduto, numa acção que o celebrizou, comandando apenas 20 soldados, José Estêvão defendeu-se tenazmente, e ao ver cair mortos a seu lado os seus subordinados, sem perder o ânimo, foi sempre continuando o fogo. Quando lhe restava apenas um soldado e não podia continuar a operar a peça de artilharia, ainda se conservou no seu posto, até que o oficial inimigo entrou no reduto. Então com o atrevimento que lhe era próprio, chamuscou as barbas do adversário com a vela mista que tinha na mão, fugindo a correr sob um chuveiro de balas.
Na fase final das
lutas liberais, José Estêvão fez parte das forças, que sob o comando do
marechal Saldanha, continuaram a luta contra as forças miguelistas no sul de Portugal. Terminada a guerra, foi promovido a primeiro-tenente em
24 de Julho de
1834.
O ingresso na vida parlamentar[editar]
Em Outubro de
1834 matriculou-se no 3.º ano da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra, uma vez que pelo decreto de
8 de Março de
1833, que deu perdão do acto aos académicos que tinham militado no exército liberal, tinha sido dispensado do exame do 2.º ano.
Concluiu em
1836, com brilho, o curso de Direito e decidiu deixar a carreira militar para ir exercer a advocacia na cidade do
Porto. Entretanto, por influência do pai, que para além de
médico e
filantropo, era um influente deputado liberal por
Aveiro que havia renunciado ao mandato para acorrer à doença de um filho, foi eleito deputado às Cortes pelo círculo de
Aveiro.
A eleição ocorreu a
20 de Novembro de
1836 (2.ª legislatura da Monarquia Constitucional), tendo José Estêvão prestado juramento a
25 de Janeiro de
1837. Realizadas na sequência da
Revolução de Setembro, as eleições davam poderes constituintes às Cortes, o que aumentava a importância da eleição. Foi assim, mais pela influência paterna que por valor próprio, que ingressou na vida parlamentar, actividade onde granjearia grande nomeada.
Logo aquando do seu juramento, proclamou-se de uma
inabalável fidelidade à
Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822e defensor dente do regime liberal. A sua eloquência espantou a Câmara do Deputados, com a sua voz, no dizer de
Raimundo António de Bulhão Pato,
com inflexões meigas, terríveis, patéticas, suavíssimas, apaixonadas, arrebatadoras, a ser de imediato notada como de excepcional dramaticidade.
Dotado de consumado talento dramático, impressionava quem o ouvia, dando a sensação de falar sempre do coração e de dizer as verdades com incomparável desassombro. Estas características, associadas à reputação de coragem que granjeara na guerra civil e a um temperamento sentimental marcado por fácil emotividade, granjearam a José Estêvão fama de incomparável rectitude e intrepidez, que faria dele um dos mais conhecidos oradores parlamentares de sempre e, no dizer da época, o soldado fiel e imaculado do partido liberal.
Integrado na extrema-esquerda do Congresso Constituinte, pronunciou o seu primeiro grande discurso parlamentar a
5 de Abril de
1837, o qual foi como uma profissão de fé política, na qual apresentava o seu programa de partidário das ideias progressistas que queria ver afirmadas na Constituição cuja discussão então se iniciava. Nessa intervenção apresentou a máxima constitucional que o celebrizaria:
Juiz só, a julgar só, um rei, com ministros responsáveis, a executar só; um corpo legislativo só, a legislar só; eis a minha monarquia, eis o meu governo representativo. Negando o republicanismo, afirmava
amar os tronos, porque
despojados de todos os poderes gozariam
sempre das simpatias populares.
Não se contentando com a tribuna do parlamento, sabendo que para melhor propagar as suas ideias era preciso ter um jornal à sua disposição, fundou, com
Manuel António de Vasconcelos, o jornal
O Tempo, cujo primeiro número saiu a
29 de Janeiro de
1838, com um editorial, escrito por José Estêvão, a insurgir-se contra os planos financeiros do governo e as propostas feitas pela direcção do Banco de Lisboa para novo empréstimo ao Tesouro.
Um parlamentar da oposição[editar]
José Estêvão Coelho de Magalhães, Lisboa
Defendendo ideias que se encontravam então na extrema-esquerda do espectro político, José Estêvão em breve se transformou numa voz de quase permanente oposição aos governos do
setembrismo, raramente apoiando as medidas preconizadas. No parlamento e na imprensa foi-se progressivamente afirmando como uma das vozes mais incómodos da oposição, concitando o apoio das franjas mais radicais.
A oposição de José Estêvão não se limitava, porém, só aos seus artigos n’
O Tempo e aos seus discursos no parlamento e no
Clube dos Camilos, então uma das sociedades políticas que mais celebridade alcançara. Com a sua palavra inflamada, não se cansava de verberar os actos do ministério, que julgava não ter força necessária para defender a revolução contra as intrigas e manejos dos adversários dela.
Discutiam-se nos Camilos as proposições mais radicais. Como se sabia que a rainha só constrangida havia aceite a
Revolução de Setembro, alguns membros do clube incluíam o trono nos seus ataques ao ministério. José Estêvão, que na sua profissão política dissera querer um rei só com ministros responsáveis a executar só, conservava-se firme nessas ideias, combatendo a deriva republicana dos membros mais radicais.
Por isso, e apesar do seu radicalismo, quando em Março de
1838, no mês final de elaboração da nova Constituição, a
Guarda Nacional cercou as Cortes, aprisionando os deputados e o governo, numa tentativa de forçar a saída dos elementos moderados do ministério, José Estêvão votou, na sessão de
13 de Março de
1838, a favor da ordem de mobilizar a tropa de linha contra os revoltosos. O seu radicalismo, apesar de tudo, não admitia acções tumultuárias nem que o
poder tombasse na rua.
Visto como a última oportunidade da esquerda face ao crescendo cartista que se adivinhava, José Estêvão deu a este ministério o seu franco e decidido apoio. Contudo, tal foi apenas um curto interregno no seu constante oposicionismo, já que a
26 de Novembro a rainha formava novo ministério, desta feita presidido por
José Travassos Valdez, 1.º
conde de Bonfim, e integrando homens, como
Rodrigo da Fonseca Magalhães e
Costa Cabral, cujos sentimentos cartistas eram bem conhecidos.
A demissão do governo do barão da Ribeira de Sabrosa, e a formação do ministério, que lhe sucedeu, foram atribuídas à influência britânica através de
lorde Palmerston e do embaixador em Lisboa. Contra ela, José Estêvão escreveu uma sátira pungentíssima, que apareceu no
Athleta do Porto, sendo depois transcrita no primeiro número da
Lança, periódico que então se começou a publicar em Lisboa. Essa sátira, em que se contava o
baptizado do ministério, tornou-se célebre.
Neste período intensificou a sua oposição ao governo, particularmente quando ficou claro que os ministérios
ordeiros tinham encetado a transição para o
cartismo, o que José Estêvão de imediato caracterizou como mais uma encarnação da direita.
A partir de
22 de Junho de
1840 passou a colaborar no jornal
A Revolução de Setembro, já que
O Tempo tinha deixado de se publicar a
24 de Agosto de
1839. Aquele periódico fora fundado por José Estêvão com o apoio do seu amigo e patrício
Manuel José Mendes Leite.
António Rodrigues Sampaio foi também um dos redactores e, com a sua pena enérgica e virulenta, tornou-se sócio inseparável de José Estêvão nas lutas políticas e nos perigos e trabalhos que sofreram depois. Nele voltou a reiterar o seu apoio por uma solução constitucional que se traduzisse na fórmula:
uma constituição popular, um rei sem arbítrio; uma representação extensa, apontando na direcção oposta àquela que ia lentamente dominando a vida política da época, onde os
cartistas estavam em franca ascensão.
Por esta altura obtém em concurso público o lugar de professor de Economia Política e de Direito Administrativo e Comercial da
Escola Politécnica de Lisboa, revelando-se um mestre pouco assíduo e mal preparado. Mesmo assim, deixou apontamentos de vulto e publicou, no
Archivo Pittoresco de 1862, o excerto de uma das suas lições a respeito da emigração.
À medida que os governos cartistas iam consolidando o seu poder, José Estêvão foi-se radicalizando na busca de soluções alternativas de governação, começando a encarar como legítima a via revolucionária e o golpismo.
A via revolucionária, o exílio e a Patuleia[editar]
Descontente com o rumo que a política portuguesa levava, e incapaz de alterar a situação pela via eleitoral, devido ao que considerava ser a manipulação dos processos eleitorais feita pelo governo e o peso avassalador do caciquismo, começou a envolver-se em conspirações.
A primeira dessas situações desenrolou-se durante o verão de
1840, quando a sua casa serviu de local de preparação de um golpe militar que pretendia derrubar o governo pela força. No dia aprazado,
11 de Agosto de
1840, pelas 22:00 horas, a Guarda Municipal e algumas centenas de pessoas tentaram o golpe, mas José Estêvão, que era um dos chefes, ficou em casa, alegadamente a escrever um artigo de jornal. No dia seguinte, no parlamento, justificou-se dizendo que nem os seus
deveres de honra nem as
necessidades do país justificavam pegar em armas. Nesse mesmo dia, 12 de Agosto, apesar de defender os fautores da intentona, votou favoravelmente um louvor à guarnição de Lisboa por ter esmagado o golpe em que deveria ter participado.
Depois de restaurada em 1842 a Carta Constitucional e de instalado o
cabralismo, José Estêvão endurece a oposição. Em consequência o governo também fortalece as medidas tomadas contra ele, do que resulta não ter conseguido a eleição por Aveiro no escrutínio levado a cabo em Junho de
1842 (5.ª legislatura). Mesmo assim, consegue uma eleição por Lisboa/Estremadura, tendo prestado juramento a
1 de Agosto de
1842.
Nessa legislatura a oposição contava um pequeno número de deputados, e embora entre eles se contassem alguns dos mais distintos do partido liberal, as suas vozes eram abafadas pela importância numérica da maioria. O governo tinha a certeza da aprovação de todos os seus actos, pouco espaço restando à oposição.
Foi neste contexto que em Fevereiro de 1844 adere a mais uma tentativa revolucionária, desta vez liderada por
António César de Vasconcelos, depois
conde de Torres Novas. O golpe iniciou-se a
4 de Fevereiro de
1844 quando o Regimento de Cavalaria n.º 4, estacionado em
Torres Novas se sublevou e se colocou ao lado dos
setembristas. De imediato José Estêvão e muitos outros militares e paisanos do partido progressista, foram juntar-se a César de Vasconcelos, o qual, com as forças que pôde reunir, marchou sobre
Almeida.
José Estêvão foi encarregado de sublevar as províncias do norte, tendo para isso saído de Almeida noite de
7 de Abril, com o maior segredo e as possíveis precauções, pois a praça então já estava sitiada pelas tropas do governo, sob o comando do
conde de Fonte Nova, com a posição dos sitiados a agravar-se de dia para dia com a falta de víveres.
Depois de um percurso por território espanhol, reentrou em Portugal pela zona de
Moncorvo tentando em vão sublevar as populações. Conseguiu algumas adesões ao longo do
Douro, mas não o suficiente para iniciar uma sublevação geral. A este tempo, já
Costa Cabral havia mandado a todos os governadores civis das diferentes províncias do reino, uma portaria circular, em que se oferecia o prémio de 2.000$000
réis à pessoa que apresentasse ao governo a cabeça de José Estêvão.
Depois de diversas tentativas, em que perdeu muito tempo, decidiu afinal José Estêvão levar a cabo o pronunciamento popular da província, auxiliado pelos setembristas influentes de
Vila Pouca de Aguiar. Tudo estava pronto para o dia designado: José Estêvão devia sair de
Murça com os populares que estivessem armados, e marchar com eles a tomar o comando das forças daquela zona, enquanto em outros dois pontos da província os demais caudilhos, já prevenidos, levantariam simultaneamente o grito a favor da causa sustentada em Almeida. Contudo, no dia designado para a partida, José Estêvão soube que Almeida capitulara a
28 de Abril e que as forças cabralistas já marchavam sobre
Trás-os-Montes. José Estêvão ainda tentou resistir, mas os ânimos estavam desmoralizados e os populares abandonaram-no. Partiu sozinho para Espanha, pela raia de Castela, e foi encontrar-se com os emigrados em
Salamanca, onde entregou o dinheiro que tinha recebido no Porto para acudir às necessidades da emigração, e pedindo licença a César de Vasconcelos, tomou passaporte para Paris. Segundo depois diria, estava
farto de andar atado a cadáveres.
Fez toda a guerra civil no sul do país, tendo participado na ocupação de
Setúbal. Na fase final da guerra, contra os protestos dos elementos mais radicais da coligação patuleia, apoia a intervenção da
Quádrupla Aliança e aceita os ditames da
Convenção de Gramido.
Com esta decisão, é obrigado a atravessar um período de algum apagamento, apenas interrompido em
1848 pela participação em mais uma intentona falhada, desta vez a chamada
Conspiração das Hidras, um pálido reflexo das revoluções europeias daquele ano. Em resultado, foi obrigado a passar à clandestinidade, vivendo escondido durante alguns meses.
A Regeneração e o regresso à vida parlamentar[editar]
Nas eleições gerais realizadas em Novembro de
1851 ao ser eleito por Aveiro reentra no parlamento, prestando juramento a
17 de Janeiro de
1852. Na sua acção parlamentar muda de tom, deixando a oposição sistemática para passar a apoiar selectivamente as iniciativas governamentais que considerava adequadas. Com essa estratégia, quando a
30 de Julho de
1852 foi criado o
Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria e ordenada a construção da linha férrea que ligaria Lisboa ao Porto afirma:
Desde que dobrámos o Cabo da Boa Esperança … nunca praticámos feito de tamanha transcendência.
Nas eleições gerais de
12 de Dezembro de
1852 (9.ª legislatura) foi eleito por Lisboa, prestando juramento a
31 de Janeiro de
1853, reiniciando uma forte participação parlamentar e reganhando parte do espaço político que o ‘’cabralismo’’ lhe havia roubado.
Nos anos seguintes foi um ministerial, embora por vezes reticente, apoiando o fomento, processo do qual esperava que finalmente resultasse a democratização de Portugal. Este seu apoio ao governo não era devidamente considerado, já que José Estêvão foi sempre mantido fora do núcleo duro das equipas governativas.
Nas eleições gerais seguintes, realizadas a
9 de Novembro de
1856, voltou a ser eleito pelo círculo de Aveiro, retornando à representação dos interesses da sua região de origem e prestando juramento a
12 de Maio de
1857. Novamente para a 11.ª legislatura (1858-1859) voltou a ser eleito por Aveiro, prestando juramento a
7 de Julho de
1858. Na legislatura seguinte foi eleito por
Vagos em escrutínio realizado a
1 de Janeiro de
1860.
Durante todo este período manteve o seu apoio selectivo ao governo, pugnando por um conjunto de projectos de interesse para a zona de Aveiro, com destaque para a construção de um novo edifício para o liceu, a passagem por aquela cidade da linha férrea que ligaria Lisboa ao Porto, a dragagem da barra e as obras de melhoramento portuário e iluminação da costa. Contudo, a situação de menor consideração que lhe era prestada pelo governo que apoiava foi novamente patente aquando da morte do
duque da Terceira, a
26 de Abril de
1860, quando não foi ouvido na remodelação que se seguiu, o mesmo sucedendo aquando da demissão do ministério que ocorreu a
4 de Julho daquele ano.
O ano de
1861 foi para José Estêvão um período de forte actividade política. Para além de trabalhar na organização de um novo partido, foi eleito no escrutínio realizado a
22 de Abril (13.ª legislatura) em candidatura de oposição ao governo, declarando-se independente de todos os partidos existentes. Eleito, prestou juramento a
10 de Junho de
1861.
Como nessa mesma altura era grande o eco na imprensa e política portuguesa a favor do
iberismo, no mesmo ano, vende o periódico
A Revolução de Setembro, passando a colaborar activamente, desde o seu primeiro número, no jornal
A Liberdade, um jornal fundado por
Jacinto Augusto de Freitas Oliveira que começou a publicar-se em Lisboa a
26 de Junho de
1861. Foi da autoria de José Estêvão o artigo principal do primeiro número.
No ano seguinte, para além de continuar a trabalhar nas habituais tarefas políticas, José Estêvão irá privilegiar a
Confederação Maçónica Portuguesa, da qual acabava de ser eleito 10.º Grão-Mestre.
2 Com tradições maçónicas na família, já que seu pai pertencera a loja que em
1823 funcionava na Quinta dos Santos Mártires, em Aveiro. José Estêvão foi iniciado durante o exílio em
Plymouth, no ano de
1828, com o nome simbólico de
Pórcio. Tendo ascendido ao sétimo grau do Rito Francês (
Soberano Príncipe Rosa Cruz), foi
venerável da Loja 5 de Novembro, de Lisboa.
Entre
1861 e
1862 José Estêvão está ainda envolvido na fundação do Asilo de São João, em Lisboa, o que faz com meios financeiros da
Maçonaria, bem como, em Aveiro, de um asilo para a infância desválida. Com tal actividade pretendia demonstrar que a
filantropialiberal podia ser tão activa e operante como a caridade resultante do fervor religioso.
Quando no início de Novembro de
1862 um aparente
acidente vascular cerebral lhe veio ceifar a vida aos 53 anos de idade, já tinha proferido cerca de 1500 intervenções parlamentares e era uma das figuras mais conhecidas da política portuguesa.
Vida familiar[editar]
José Estêvão casou na freguesia da
Sé do
Porto a 7 de Junho de
1858 com Rita de Moura de Miranda, terceira de cinco filhas do notável médico Custódio Luís de Miranda (Porto,
Vitória - Porto, 24 de Fevereiro de 1848) e de Margarida de Cortona Ferreira Borges de Moura, do Porto, sobrinha materna de
José Ferreira Borges. Esta senhora era natural do Porto, onde nasceu a 19 de Outubro de 1822 e onde também faleceu em
Cedofeita a 2 de Outubro de 1904.
No ano seguinte, a
13 de Setembro de
1859 nasceu-lhes o primeiro filho ao qual puseram o nome de Luís Cipriano, e que veio a ser homem notável, conhecido por
Luís de Magalhães, deputado e ministro. Em Outubro de 1860 nasceu em Aveiro a sua filha Joana Inês, que viria a morrer em Abril do ano seguinte também em Aveiro. Quando faleceu, a esposa estava grávida, tendo dado à luz um filho, nascido em Lisboa a 2 de Janeiro de 1863 e depois baptizado com o mesmo nome do pai, o qual faleceu na
Quinta do Mosteiro, em
Moreira da Maia, a 9 de Janeiro de 1889.
À data do seu casamento José Estêvão já tinha um filho, de nome Mateus Luís, que lhe nascera em
Coimbra, no ano de
1837, fruto de
amores de estudante com uma mulher desconhecida mas que teve também uma filha natural de
Francisco de Lemos Ramalho Pereira de Azeredo Coutinho, miguelista e 1.º
Conde de Condeixa. Veio a falecer em
Porto Alegre a 2 de Janeiro de 1895, onde viveu e casara a 21 de Dezembro de 1883 com Maria da Conceição de Oliveira, e onde tiveram as suas três filhas, Ana em 1884, Maria em 1887 e Luísa em 1889.
Faleceu em
Lisboa, de morte súbita, a
4 de Novembro de
1862, deixando a esposa grávida de um filho que viria a ter o mesmo nome do pai. A sua morte foi muito sentida, particularmente em Aveiro, cidade onde gozava de enorme prestígio.
As duas câmaras parlamentares, que estavam reunidas, apenas souberam a triste notícia, levantaram a sessão depois de sentidos discursos de alguns pares e deputados. Por espaço de oito dias se conservou coberta de crepe a sua cadeira de deputado. Foi também resolvido que a Câmara dos Deputados mandasse lavrar em mármore o busto de José Estêvão, para ser colocado na biblioteca do corpo legislativo, e se abrisse uma subscrição nacional para se erigir um monumento fúnebre à sua memória.
O enterro foi uma manifestação imponentíssima, com milhares de pessoas a acompanharem o féretro até ao cemitério dos Prazeres. Ambas as câmaras das Cortes se fizeram representar, o mesmo acontecendo com a
Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, a
Sociedade de Geografia de Lisboa e todas as associações e clubes, colégios, institutos, sociedades de recreio, corporações de bombeiros municipais e de voluntários, asilos, e outras instituições ligadas à esquerda liberal ou por ele beneficiadas.
José Estêvão tinha declarado em vida que desejava que o seu cadáver fosse sepultado em Aveiro, junto do de seu pai. Passados dois anos sobre a sua morte, e inaugurada a linha férrea pela qual tanto se batera, o corpo do grande tribuno chegou a Aveiro no dia
16 de Maio de
1864, a bordo de um comboio especial, e foi sepultado no cemitério daquela cidade. Foi sepultado em jazigo que ele mandara ali construir, tendo-lhe sido erigido, por subscrição pública nacional, um monumento fúnebre no local.
Em
1889, também por subscrição público, foi erigida em Aveiro a estátua do grande paladino, com grandes festejos e homenagens provenientes de todos os quadrantes políticos.
Na fachada da casa aonde tinha nascido José Estêvão, sita na Rua dos Mercadores, em Aveiro, que pertencera a seus avós maternos, mandou a Câmara Municipal de Aveiro colocar, no dia
15 de Julho de
1889, uma lápide comemorativa do nascimento de José Estêvão, contendo a seguinte inscrição:
Casa onde nasceu aos 26 de Dezembro de 1809 o grande tribuno parlamentar e benemérito cidadão portuguez José Estevão Coelho de Magalhães. Em honra de tão querida memória mandou a Câmara Municipal d'Aveiro fazer e collocar esta lapide, por deliberação tomada em sua sessão de 10 de Fevereiro de 1887.
Uma das principais escolas secundárias de Aveiro, e uma das mais antigas de Portugal, a
Escola Secundária de José Estêvão, adoptou-o por patrono. Ainda hoje, múltiplas localidades relembram na sua toponímia o nome de José Estêvão.
Referências
- ---------- Arquivo do Distrito de Aveiro, volume XXVIII, 1962, pp. 241 a 319;
- Joaquim Simões Franco, Discursos Parlamentares de José Estêvão Coelho de Magalhães, Aveiro, Imprensa Comercial, 1878;
- José Estevão, Obra Política, II: Discursos Políticos, Prefácio, recolha e notas de José Tengarrinha, Lisboa, Portugália Editora, 1963;
- Joel Serrão (sel.), Liberalismo, Socialismo, Republicanismo. Antologia de Pensamento Político Português, 2.ª Edição, Lisboa, Livros Horizonte, 1979 (1.ª edição, 1969);
- Maria Filomena Mónica (coordenadora), Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910 (vol II, pp. 710–713), Colecção Parlamento, Imprensa de Ciências Sociais/Assembleia da República, Lisboa, 2005;
- Marques Gomes, José Estêvão – Apontamentos para a sua biografia, Porto, 1889.
Ligações externas[editar]