sexta-feira, 22 de outubro de 2010

vivências de uma escriba


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Numa das divisões do 2º piso, todo ele destinado a arquivo (?), jazia no chão, moribunda, uma bandeira de Portugal, desbotada e esfarrapada, que, conforme o que se verificava em todos os Edifícios Públicos, antes da revolução de 25 de Abril, pavoneava-se, em datas solenes, numa varanda, na qual ainda se encontrava o respectivo suporte.
O 3º andar tinha uma singular peculiaridade. Era destinado a residência do chefe da Repartição, sem qualquer custo, no concernente a renda, água e luz! Não carecendo o destinatário de tal, tinha  cedido esse direito a um escriba, que lá morava, com a respectiva família, apesar desse piso se encontrar particularmente decadente. 
Todo o prédio carecia de obras, não deixando, a Câmara Municipal, alterar a fachada, por ser brasonada, quanto ao resto podia restaurar-se, alterando a planta original, mediante estudos.
A cada Inverno que passava, agudizavam-se os problemas de infiltração de água, com a humidade e o pó a deteriorarem todo o acervo, de documentos e de livros, da Repartição. Os soalhos, de madeira, iam cedendo, cada vez mais, e, do telhado não chegavam boas notícias! A integridade física de todos os que permaneciam no casarão, escribas e utentes, começou a ser posta em causa. Chegaram então uns senhores, de pasta na mão. Eram arquitectos e engenheiros, uns oriundos da capital, outros da autarquia local. Iam e vinham, repetidamente. Tiravam medidas, fotografavam e concluíram que havia que mudar a Repartição para outro local, provisoriamente, enquanto os consertos, inevitáveis, fossem concretizados, podendo a tutela dos Serviços, a partir daí, mandar que se instalassem no prédio brasonado, vários Serviços, porque, para tal, sobrava espaço. Planos óptimos, não? Edifício reparado, vários Serviços ali residentes, confortavelmente. 
Ainda não vos contei que o quadro eléctrico era curioso. Tinha fusíveis de cobre, que queimavam constantemente, havendo que descarnar uns tubinhos de acrílico, onde se alojavam os fios, para os retirar e substituir os calcinados. Não se podiam usar aquecedores eléctricos, porque os ampéres logo davam cabo dos fusíveis! No Inverno, tiritava-se com o frio, que entrava por todas as frinchas, e compraram-se uns aquecedores grandes, a gás, que, a funcionar, provocavam fortes dores de cabeça!
As máquinas de escrever eram manuais e o material informático ainda se encontrava arredado dos Serviços. O fotocopiador, pequeno, era de um modelo antigo, com avarias consecutivas.
Mas, num futuro próximo, tudo iria melhorar, após as obras...

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